segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mãe Velha

Agora pouco recebi estava vendo um trecho do seriado a Casa das Sete Mulheres… e lembrei do poema abaixo… e que dá título a esse post… Ouvi esse poema pela primeira vez declamado por uma menina que estudava comigo no Magistério… Ela o declamava nos concursos de poesia do CTG que ela participava…  o nome dela se não me engano era Lisa… acho que era isso mesmo… então para vocês esse poema no cancioneiro gaúcho.

Mãe Velha

Autoria: Apparicio Silva Rillo

Cabelo era preto.
Que liso era o rosto!
Teu corpo era flor.

Cabelo era preto.
mas hoje, Mãe Velha,
cabelo branquinho,
geada e agosto
que não levantou.

Que liso era o rosto!

Agora, Mãe Velha,
rosto enrugadinho
parece co'as frutas
que o tempo secou.

Teu corpo era flor.
Mas hoje, Mãe Velha,
da flor, que ficou?
Só haste pendida
que a vida deixou.

A cor do cabelo
passou pro vestido.

O arado do pranto
no liso do corpo
que fundou que arou!

A haste pendida
curvada pra terra,
e a terra reclama
o que falta da flor.

- Papai foi pra guerra!
dizia o piá.
Mãe Velha era moça
no tempo que foi.

Mas veio a notícia:
- Teu homem morreu,
de lenço encarnado
e de lança na mão.

E os homens passavam
nos magros cavalos,
com barbas de mato,
com palas rasgados,
com pena da moça,
com raiva da guerra,
que mata um gaúcho
pra erguer um herói.

Mãe Velha - era moça -
chorou muito choro
no seu avental!
Abriu o oratório
da sala do rancho,
rezou padre-nosso
por alma do homem
que a guerra levara
de lenço encarnado
e de lança na mão.

E a Virgem Maria,
seu Filho nos braços,
olhava mãe moça
Mãe Velha ficar.
E a vida espiava
Mãe Velha viver:

- madrugada na mangueira,
leite branco na caneca,
chaleira chia na chapa,
costume faz chimarrão.
Gamela, farinha branca,
forno aceso, sova pão,
charque magro na panela,
canjica, soca pilão,
manjericão na janela,
vassoura roda no chão...

E a vida cobrava
tostão por tostão.
Mãe Velha, mais velha,
pagava pro tempo
a usura do dia.
Um sol que sumia
era mais um dobrão.

Piá se fez homem.
Mãe Velha com medo da revolução
Um dia, por fim,
piá foi s'embora
seguindo um clarim.
Mesminho que o pai:
de lenço encarnado
e de lança na mão.

Guria cresceu.
Sobrou no vestido
da chita floreada
que a mãe lhe cozeu.
Depois... se perdeu.

Mãe Velha chorando
o que a vida lhe fez,
no velho oratório
já reza por três.

A noite tem fala
na boca da noite,
a vida é mudinha,
nem boca não tem.

Por isso que a vida
ninguém não entende,
Mãe Velha, ninguém.
A vida, Mãe Velha,
que é mãe e mulher.

3 comentários:

  1. Bah, tô mal nas paradas, hein... Cadê meu nominho ali nos "blogs legais"? Tô perdendo até pro Pe. Alex... Faz isso comigo não, tchê!!! Sou um dos teus 12 seguidores mais assíduos! Abraço!!!

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  2. Ah, sobre a poesia...

    Eu a desconhecia completamente! Será que foi inspirada em Ana Terra, a protagonista da primeira geração da saga "O Tempo e o Vento", do Érico Veríssimo? A história tá muito parecida...

    Abraço!!!

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  3. Ei Zé!!! Que é isso companheiro... o seu blog não foi citado como blog legal, porque esta ao lado dos posts para acesso direto... Mas farei uma retratação pública... ok...

    Quanto ao Poema... olha não sei se tem haver com a Ana Terra... mas realmente lembra bastante.

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