terça-feira, 29 de junho de 2010

Retratação – Blog Os Peregrinos

Olha pessoal… como bem lembrado pelo meu chapa Zé Luiz… não havia escrito nada sobre o Blog dele… que com certeza… e não porque ele me deu um puxão de orelha… é um dos blogs para quem trabalha com a juventude… mais provocador… e mais apaixonante
Bom o Zé… sempre teve esse dom… de provocar nossa reflexão… inclusive uma vez chegamos a discutir, no sentido literal da palavra, sobre isso… o que foi muito bacana… é sempre bacana… ler ou falar com o Zé…
O Zé… foi um jovem que nunca se conformou com a apatia da juventude… e por isso se colocou na missão de dedicar sua vida a juventude… e é com paixão que defende suas idéias… e faz tantos jovens e adultos sonharem…
Por isso não percam mais tempo lendo essa retratação e lembrança mais do que justa… e vão lá e confiram seus textos…

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mãe Velha

Agora pouco recebi estava vendo um trecho do seriado a Casa das Sete Mulheres… e lembrei do poema abaixo… e que dá título a esse post… Ouvi esse poema pela primeira vez declamado por uma menina que estudava comigo no Magistério… Ela o declamava nos concursos de poesia do CTG que ela participava…  o nome dela se não me engano era Lisa… acho que era isso mesmo… então para vocês esse poema no cancioneiro gaúcho.

Mãe Velha

Autoria: Apparicio Silva Rillo

Cabelo era preto.
Que liso era o rosto!
Teu corpo era flor.

Cabelo era preto.
mas hoje, Mãe Velha,
cabelo branquinho,
geada e agosto
que não levantou.

Que liso era o rosto!

Agora, Mãe Velha,
rosto enrugadinho
parece co'as frutas
que o tempo secou.

Teu corpo era flor.
Mas hoje, Mãe Velha,
da flor, que ficou?
Só haste pendida
que a vida deixou.

A cor do cabelo
passou pro vestido.

O arado do pranto
no liso do corpo
que fundou que arou!

A haste pendida
curvada pra terra,
e a terra reclama
o que falta da flor.

- Papai foi pra guerra!
dizia o piá.
Mãe Velha era moça
no tempo que foi.

Mas veio a notícia:
- Teu homem morreu,
de lenço encarnado
e de lança na mão.

E os homens passavam
nos magros cavalos,
com barbas de mato,
com palas rasgados,
com pena da moça,
com raiva da guerra,
que mata um gaúcho
pra erguer um herói.

Mãe Velha - era moça -
chorou muito choro
no seu avental!
Abriu o oratório
da sala do rancho,
rezou padre-nosso
por alma do homem
que a guerra levara
de lenço encarnado
e de lança na mão.

E a Virgem Maria,
seu Filho nos braços,
olhava mãe moça
Mãe Velha ficar.
E a vida espiava
Mãe Velha viver:

- madrugada na mangueira,
leite branco na caneca,
chaleira chia na chapa,
costume faz chimarrão.
Gamela, farinha branca,
forno aceso, sova pão,
charque magro na panela,
canjica, soca pilão,
manjericão na janela,
vassoura roda no chão...

E a vida cobrava
tostão por tostão.
Mãe Velha, mais velha,
pagava pro tempo
a usura do dia.
Um sol que sumia
era mais um dobrão.

Piá se fez homem.
Mãe Velha com medo da revolução
Um dia, por fim,
piá foi s'embora
seguindo um clarim.
Mesminho que o pai:
de lenço encarnado
e de lança na mão.

Guria cresceu.
Sobrou no vestido
da chita floreada
que a mãe lhe cozeu.
Depois... se perdeu.

Mãe Velha chorando
o que a vida lhe fez,
no velho oratório
já reza por três.

A noite tem fala
na boca da noite,
a vida é mudinha,
nem boca não tem.

Por isso que a vida
ninguém não entende,
Mãe Velha, ninguém.
A vida, Mãe Velha,
que é mãe e mulher.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Voto Rosa Choque

Há um século as mulheres não podiam votar. Para conseguir esse direito, algumas delas arregaçaram as mangas e lutaram cara a cara com os homens - algumas vezes até a morte

por Mariana Sgarioni

De um lado, uma dona de casa educada para cumprir as ordens do marido. Do outro, uma escritora descontente. A separá-las uma da outra, quilômetros de distância. A separá-las de nós, uns 200 anos. A dona de casa era a americana Abigail Adams que, um belo dia, levantou decidida a peitar o marido e exigir direitos iguais aos dele. A escritora era a francesa Olympe de Gouges, autora de uma versão feminina da Declaração dos Direitos do Homem. As duas acabaram se dando mal: a americana foi ridicularizada publicamente pelo marido. E a francesa foi guilhotinada por “ter esquecido as virtudes próprias de seu sexo”.

Essas duas senhoras que viveram no século 18 se tornaram o ponto de partida para uma luta que durou décadas e só acabou há muito pouco tempo: o sufrágio feminino – direito de as mulheres escolherem seus representantes por meio do voto. Esse direito só foi conquistado pelas brasileiras recentemente, em 1932, pelas americanas em 1920 e pelas inglesas em 1928. As suíças votaram pela primeira vez somente em 1971. Se lembrarmos que, até então, na maioria desses países, as mulheres não podiam ser proprietárias de nada, eram proibidas de alugar um imóvel ou assinar um contrato sem autorização do pai ou do marido, não é difícil entender o tamanho da briga que a mulherada estava comprando. Era uma revolução. Não é à toa que o historiador britânico Eric Hobsbawm considera esse um dos momentos mais marcantes do século 20.

Mas o pontapé inicial na porta fechada ao voto feminino se deu bem antes. Considerada a primeira sufragista americana, Abigail Adams acompanhou de perto a Guerra de Independência Americana, no final do século 18. Seu marido, John Adams, foi um dos líderes da revolta contra os ingleses (em 1797, ele se tornaria o segundo presidente dos Estados Unidos). “Espero que no novo Código de Leis vocês se lembrem das mulheres e sejam mais generosos com elas do que seus antepassados. Estamos dispostas a nos rebelar e não obedeceremos nenhuma lei à qual não tivemos voz nem voto”, escreveu ela ao maridão, em 1776, quando ele ajudava a escrever a nova Constituição.

Embora não tenha sido atendida (e sua ameaça não tenha sido cumprida), Abigail plantou a semente do movimento sufragista, que pegaria fogo para valer em meados do século 19, nos Estados Unidos. O ambiente parecia propício a novas idéias e as mulheres pegaram carona no movimento contra a escravidão para dizer que queriam votar. Mas a rejeição masculina era de doer. Filósofos do quilate do inglês Herbert Spencer não admitiam nem a hipótese de a mulher estudar, que diria votar. “Cansar demais o cérebro produz moças de busto chato que jamais poderão gestar uma criança bem desenvolvida”, dizia ele.

Bobagens como esta ainda eram levadas a sério, mesmo entre os abolicionistas. Liberais quando o assunto era escravidão, reacionários quando era a participação política e direitos das mulheres. Isso ficou bem claro a partir do Congresso Mundial Antiescravidão de 1840, que reuniu, nos Estados Unidos, líderes políticos do mundo inteiro (como o príncipe Albert, marido da rainha Vitória, da Inglaterra). Mulheres simplesmente foram proibidas de participar. Entre as barradas no baile estava a escritora e militante abolicionista Elizabeth Cady Staton.

Inconformada, ele começou a reunir outras mulheres descontentes até conseguir organizar, em 1848, a primeira Convenção dos Direitos da Mulher, realizada em Nova York. O encontro atraiu pouco mais de 300 pessoas e hoje é lembrado como marco inicial do movimento sufragista americano. Ali foi escrita a Declaração dos Sentimentos, uma versão feminista da Declaração de Independência dos Estados Unidos, que começa com a frase: “Acreditamos serem estas verdades evidentes: que todos os homens e mulheres foram criados iguais”.

A sociedade recebeu mal o anseio sufragista. “Mulheres foram agredidas nas ruas com frutas podres e insultadas pela imprensa”, diz a jornalista americana Eleanor Cliff, autora de Founding Sisters (“Irmãs Pioneiras”, inédito no Brasil). O livro reproduz trechos de jornais da época que classificaram o encontro em Nova York de “a convenção das galinhas”. Em um artigo, as sufragistas são descritas como “esposas divorciadas, mulheres sem filhos ou solteironas”. Apesar do preconceito, elas foram em frente e, em 1851, reuniram-se para a Convenção de Ohio, onde a defesa do voto feminino foi, de uma vez por todas, alardeada para o mundo. A responsável foi a ex-escrava Sojourner Truth, ao subir na tribuna e dizer as palavras até hoje repetidas em reuniões feministas do mundo todo. “Olhem para mim. Olhem para o meu braço. Eu lavrei a terra, plantei e juntei tudo no celeiro e nenhum homem poderia me liderar! E não sou eu uma mulher?”, disse.

Se as americanas tentavam resolver tudo em encontros políticos e discursos enfáticos, as inglesas foram mais – muito mais – radicais. Lideradas por Emmeline Pankhurst, mulher do advogado Richard Pankhurst (famoso defensor da emancipação da mulher, autor da lei que garantiu às inglesas o direito à propriedade), fundaram, em 1903, o WSPU (sigla em inglês para “União Social e Política das Mulheres”), que recentemente a Scotland Yard, a polícia britânica, classificou como a primeira organização terrorista do país. Não é para menos: sob o lema “Ações, Não Palavras”, as suffragettes, como eram conhecidas as integrantes do WSPU, imprimiram um ritmo violento à campanha pelo voto. Christabel, filha de Emmeline, foi a primeira suffragette a ser presa, em 1905: ela esbofeteou um policial depois de invadir a sala de um parlamentar. Em janeiro de 1912, o partido promoveu um incêndio num posto do correio em Londres. Ninguém saiu ferido, mas três ativistas ficaram seis meses atrás das grades. Em novembro do mesmo ano, durante uma passeata, as representantes do WSPU apedrejaram as vidraças da Câmara dos Comuns, sede do Poder Legislativo inglês. As manifestações incluíram até um ato suicida.

As detenções de sufragistas se tornaram tão comuns que viraram parte da estratégia para divulgar a causa. Em 1912, a própria Emmeline foi detida 12 vezes e, em todas elas, se recusou a comer. A polícia acabou soltando Emmeline, temendo que ela morresse sob a custódia do Estado. O sucesso da estratégia fez com que várias suffragettes se deixassem prender só para fazer greve de fome na cadeia e, dessa forma, atrair todas as atenções para a causa.

A Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, foi decisiva para as pretensões sufragistas. “Alçadas a cargos importantes no mercado de trabalho, em fábricas, bancos e hospitais durante o esforço de guerra, as mulheres não voltariam a posições subalternas depois do conflito”, escreveu Hobsbawm, em Era dos Extremos: o Breve Século 20. Nos Estados Unidos as primeiras eleições com a participação das mulheres ocorreram em 1920 – mais de 50 anos depois de os escravos libertos adquirirem o direito de votar. Na Inglaterra, o Parlamento aprovou o voto feminino em 1928 – ironicamente, poucas semanas depois da morte de Emmeline Pankhurst.

Pátria amada

No Brasil, as coisas andaram um pouco mais devagar. A discussão sobre o voto feminino chegou ao Congresso Nacional pela primeira vez em 1891. Influenciados pelo movimento das americanas e inglesas, alguns deputados propuseram estender o direito de voto às mulheres que possuíssem diploma de curso superior e não estivessem sob a custódia do pai. O resultado foi desastroso: os congressistas consideraram a emenda “anárquica”. Entre seus argumentos: a inferioridade da mulher e o perigo de dissolução da família.

O movimento decisivo para a conquista do voto pelas brasileiras chegou na bagagem da bióloga Bertha Lutz, que voltava de uma temporada de estudos em Paris, em 1919. De lá, Bertha trouxe os ideais sufragistas e não tardou para organizá-los por aqui: aliando-se à militante anarquista Maria Lacerda de Moura, Bertha fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher, que, em 1922, passou a se chamar Federação pelo Progresso Feminino.

Esse foi um período de intenso intercâmbio entre as sufragistas inglesas, americanas e brasileiras. “Intermediadas por Bertha Lutz, elas tinham muita comunicação entre si. As americanas vinham apoiar a luta das brasileiras e vice-versa”, afirma a socióloga Eva Blay, da Universidade de São Paulo. Em 1927, o Rio Grande do Norte incluiu em sua Constituição um artigo permitindo o voto feminino, que fez a mobilização se intensificar ainda mais. Mas esse direito foi estendido para todo o país somente em 1932, com um decreto-lei aprovado pelo então presidente Getúlio Vargas.

Foi o fim de uma guerra de séculos, vencida lentamente, passo a passo. Para chegarem à vitória, as mulheres usaram estratégias que pediam uma astúcia fora do controle das regras masculinas. E é exatamente assim que elas costumam conseguir deles tudo o que querem – em todas as esferas da vida.

As pioneiras do voto feminino
O que a mulher do presidentedos Estados Unidos e uma ex-escrava têm em comum

Abigail Adams (1744-1818)

Proveniente de uma família de prestígio, Abigail casou-se aos 19 anos com John Adams, futuro presidente dos Estados Unidos. Em 1776, enviou uma carta ao marido: “Não nos consideraremos obrigadas a obedecer nenhuma lei na qual não tivemos voz nem voto”. Embora a resposta de Adams tenha sido dura, Abigail nunca deixou de brigar por suas idéias. “Não dêem muito poder a seus maridos”, conclamava. “Lembrem-se de que todos os homens seriam tirânicos se pudessem.”

Sojourner Truth (1797-1833)

Abolicionista e ativista pelos direitos das mulheres, especialmente das ex-escravas. Isabella Baumfree, seu nome de registro, foi escrava até os 30 anos, quando fugiu e juntou-se aos reformistas. Por seu carisma e incrível capacidade de levar a platéia às lágrimas, Sojourner causava comoção cada vez que falava sobre as atrocidades às quais foi submetida durante a escravidão. Em seu lendário discurso intitulado “E não sou uma mulher?”, tornou-se símbolo da luta pela igualdade de direitos nos Estados Unidos.

Elizabeth Cady Staton (1815-1902)

Nascida em Johnston, estado de Nova York, filha de um juiz, Elizabeth representou papel essencial numa das primeiras conquistas femininas dos Estados Unidos, o direito à propriedade. Casada com um jornalista abolicionista, foi ela quem organizou a lendária Convenção pelos Direitos das Mulheres em Nova York, em 1848, e redigiu a Declaração dos Sentimentos, baseada na Declaração de Independência americana, que declarava que homens e mulheres eram criados iguais.

Emmeline Pankhurst (1858-1928)

Fundadora do WSPU (União Social e Política das Mulheres), a principal organização sufragista da Inglaterra, Emmeline dedicou sua vida inteira à causa. Seus métodos agressivos de luta, como incentivar a depredação e o apedrejamento de casas e até da Câmara dos Comuns, por exemplo, fizeram com que ficasse conhecida como uma das primeiras terroristas de seu país. Ela e sua filha, Christabel, foram presas inúmeras vezes. Na maioria delas, Emmeline conseguia ser solta após severas greves de fome.

Bertha Lutz (1894-1976)

Líder na defesa dos direitos das mulheres no Brasil, Bertha nasceu em São Paulo, filha do cientista e médico Adolfo Lutz. Aos 17 anos, foi estudar na Europa e trouxe de lá os ideais sufragistas. Criou, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Representou o Brasil no Congresso da Liga das Mulheres Eleitoras nos Estados Unidos. Mesmo depois de estabelecido por lei o voto feminino, Bertha continuou a lutar pelos direitos da mulher até sua morte, aos 82 anos.

Mulher bomba
Sufragista inglesase atira na frente de um cavaloe morre pela causa

Militante do WSPU (Women Social and Political Union), a inglesa Emily Wilding Davison escreveu seu nome na história da luta pelo direito de voto feminino de maneira trágica: jogando-se na frente do cavalo do rei da Inglaterra. Emily escolheu o cenário a dedo: Derby, Inglaterra, dia 4 de junho de 1913. Ali acontecia, como em todos os anos, a mais famosa corrida de cavalos do mundo (até hoje se usa o termo dérbi para designar esse tipo de esporte). O evento reunia a nata da elite da época, incluindo a família real. Em uma cerimônia cheia de pompa, o rei George V apresentou seu animal, Anmer, e o jóquei que iria conduzi-lo, Herbert Jones. A manifestante Emily, velha terrorista conhecida pela polícia – já havia sido presa por incendiar postos dos correios e apedrejar a Câmara dos Comuns, entre outras peripécias – estava na arquibancada, quieta, esperando o momento de entrar em cena.

Dada a largada, Emily pulou as barreiras que separavam a pista do público e atirou-se à frente do cavalo Anmer, que caiu em cima dela, derrubando o jóquei. Alguns espectadores ouviram-na gritar: “Votos para as mulheres!”, pouco antes de se atirar. Outras testemunhas disseram que Emily teria tentado agarrar as rédeas do animal, mas a pancada foi terrível. Com sérios ferimentos, incluindo danos irreversíveis no coração, Emily foi levada às pressas para o Epsom Cottage Hospital, onde morreu quatro dias depois. Apesar de ter se tornado mártir do movimento sufragista, seu gesto teve efeito contrário na prática: “Se uma mulher bem educada foi capaz de uma atitude dessas, imagine o que fariam as outras”, disseram os parlamentares. Na lápide de Emily, restou a inscrição: “Ações, Não Palavras”.

Vovó queria votar
Jornalista fala de sua avó,Eugenia Moreyra, uma das primeiras sufragistas brasileiras

Eugenia Moreyra foi uma mulher corajosa como poucas. Em 1914, aos 16 anos de idade, a primeira jornalista brasileira de que se tem notícia já escrevia artigos ousados dizendo: “A mulher será livre somente no dia em que passar a escolher seus representantes”. Foi com essas palavras que ela acendeu o debate sobre o voto feminino no Brasil. Eugenia trabalhou nos jornais A Rua, A Notícia e O País. Casou-se com um colega de profissão, Álvaro Moreyra, mas nunca parou de trabalhar. Entre suas netas está a repórterda TV Globo Sandra Moreyra, que fala, com exclusividade para Aventuras na História, sobre o orgulho que sente da avó.

"Sufragista, repórter, atriz, comunista, mãe de oito filhos. Essa era minha avó. Morreu cedo. Por isso não a conheci, mas, desde criança, me encantava ouvir meu pai contar a história dela. Eugenia Brandão era o seu nome de solteira. Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais. Ainda menina, mudou-se para o Rio, com a mãe viúva. Começou a trabalhar cedo, como vendedora numa livraria. Nas horas vagas, estudava francês, lendo dicionários. Um dia, decidiu ser repórter. Entrou na redação do jornal vespertino A Rua e propôs ao editor uma série de pautas. Foi contratada. Ficou conhecida no Rio de Janeiro da época por uma reportagem sobre um asilo de moças, onde as meninas sofriam maus-tratos. Ela se internou no asilo, como uma jovem pobre e abandonada pelo namorado. Lá, conversou com outras moças, apurou as denúncias e uma noite fugiu para contar a história. Tinha só 16 anos. Vovó esperta.

Eugenia não lutou apenas pelo voto feminino, queria a participação das mulheres na vida política do país. Meus avós foram membros do Partido Comunista, nos tempos de sua fundação. Participavam de comícios e manifestações. Foram parar na cadeia por causa disso. Em 1936, quando Luís Carlos Prestes e sua mulher Olga Benário foram para a prisão, meus avós também foram presos. Eugenia ficou presa com Olga, na sala 4 do Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS. Fez greve de fome contra a decisão do governo brasileiro de deportar Olga para a Alemanha de Hitler.

Olga era judia e acabou morrendo num campo de concentração. Era forte e doce, rigorosa e cheia de sonhos. Quando meu avô, Álvaro Moreyra, fundou uma companhia de teatro, o Teatro de Brinquedo, lá foi ela para o palco, virou atriz. Vovó foi musa dos modernistas. Declamava poemas de Oswald e Mário de Andrade e Raul Bopp nos teatros do Rio e São Paulo. Foi esposa, mãe, avó e rebelde. Tudo ao mesmo tempo e até o fim da vida, aos 49 anos. Quando ela morreu, em 1948, o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu: ‘A poesia tinha para ela um valor essencial. Foi mulher encantadora e brava. Pagou caro por suas idéias’."

Saiba mais

Livros

Founding Sisters, Eleanor Cliff, Turning Points, 2004 - Jornalista americana conta a história das sufragistas de seu país

A Mulher Brasileira e suas Lutas Sociais e Políticas: 1850 a 1937, June E. Hahner, Brasiliense, 1981 - Ilustrado com fotos, o livro narra a luta pelo direito de voto das mulheres no Brasil

Site

http://www.historylearningsite.co.uk/suffragettes.htm - Página dos professores de história britânica online traz tudo sobre o movimento inglês e suas principais personagens

Fonte: Revista Aventuras na História Outubro 2004

Ary Fontoura – Bicho do Paraná

Ary Beira Fontoura (Curitiba PR 1933). Ator. De grande versatilidade e talento cômico, Ary Fontoura dedica parte de sua carreira à comédia ligeira e aos personagens que, na televisão, marcam sua habilidade de composição e a expressividade de sua personalidade interpretativa. Destaca-se no teatro pelos desempenhos em Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho (Vianinha), em 1979, e em produções no Teatro dos Quatro, na década de 80.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Que a Liberdade Ressoe ou se preferir Eu tenho um Sonho

Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre.

Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha nas margens da sociedade americana, estando exilado na sua própria terra.

Por isso, encontramo-nos aqui hoje para dramaticamente mostrarmos esta extraordinária condição. Num certo sentido, viemos à capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitectos da nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de independência, estavam a assinar uma promissória de que cada cidadão americano se tornaria herdeiro.

Este documento era uma promessa de que todos os homens veriam garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à procura da felicidade. É óbvio que a América ainda hoje não pagou tal promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar este compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem cobertura; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: "saldo insuficiente". Porém nós recusamo-nos a aceitar a ideia de que o banco da justiça esteja falido. Recusamo-nos a acreditar que não exista dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidades deste país.

Por isso viemos aqui cobrar este cheque - um cheque que nos dará quando o recebermos as riquezas da liberdade e a segurança da justiça. Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da clara urgência do agora. Não é o momento de se dedicar à luxuria do adiamento, nem para se tomar a pílula tranquilizante do gradualismo. Agora é tempo de tornar reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo de sairmos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado caminho da justiça racial. Agora é tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de Deus. Agora é tempo para retirar o nosso país das areias movediças da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade.

Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do Negro. Este sufocante verão do legítimo descontentamento do Negro não passará até que chegue o revigorante Outono da liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que o Negro precisava só de desabafar, e que a partir de agora ficará sossegado, irão acordar sobressaltados se o País regressar à sua vida de sempre. Não haverá tranquilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania.

Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações do nosso País até que desponte o luminoso dia da justiça. Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No percurso de ganharmos o nosso legítimo lugar não devemos ser culpados de actos errados. Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio.

Temos de conduzir a nossa luta sempre no nível elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que o nosso protesto realizado de uma forma criativa degenere na violência física. Teremos de nos erguer uma e outra vez às alturas majestosas para enfrentar a força física com a força da consciência.

Esta maravilhosa nova militancia que engolfou a comunidade negra não nos deve levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos dos nossos irmãos brancos, como é claro pela sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que os seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que sua liberdade está intrinsecamente ligada à nossa liberdade.

Não podemos caminhar sozinhos. À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos em frente. Não podemos retroceder. Há quem pergunte aos defensores dos direitos civis: "Quando é que ficarão satisfeitos?" Não estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos incontáveis horrores  da brutalidade policial. Não poderemos estar satisfeitos enquanto os nossos corpos, cansados das fadigas da viagem, não conseguirem ter acesso a um lugar de descanso nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Não poderemos estar satisfeitos enquanto a mobilidade fundamental do Negro for passar de um gueto pequeno para um maior. Nunca poderemos estar satisfeitos enquanto um Negro no Mississipi não pode votar e um Negro em Nova Iorque achar que não há nada pelo qual valha a pena votar. Não, não, não estamos satisfeitos, e só ficaremos satisfeitos quando a justiça correr como a água e a rectidão como uma poderosa corrente.

Sei muito bem que alguns de vocês chegaram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês saíram recentemente de pequenas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde a vossa procura da liberdade vos deixou marcas provocadas pelas tempestades da perseguição e sofrimentos provocados pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento injusto é redentor.

Voltem para o Mississipi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para a Luisiana, voltem para as bairros de lata e para os guetos das nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não nos embrenhemos  no vale do desespero.

Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: "Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais".

Tenho um sonho que um dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.

Tenho um sonho que um dia o estado do Mississipi, um estado deserto, sufocado pelo calor da injustiça e da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.

Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu caractér.

Tenho um sonho, hoje.

Tenho um sonho que um dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador actualmente  pronunciam palavras de ... e recusa, seja transformado numa condição onde pequenos rapazes  negros, e raparigas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos rapazes brancos, e raparigas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.

Tenho um sonho, hoje.

Tenho um sonho que um dia todo os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão  niveladas, os lugares ásperos serão polidos, e os lugares tortuosos serão endireitados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, conjuntamente.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao Sul. Com esta fé seremos capazes de retirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação numa bonita e harmoniosa sinfonia de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir para a prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que um dia seremos livres.

Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: "O meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram os meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, que de cada localidade ressoe a liberdade".

E se a América quiser ser uma grande nação isto tem que se tornar realidade. Que a liberdade ressoe então dos prodigiosos cabeços do Novo Hampshire. Que a liberdade ressoe das poderosas montanhas de Nova Iorque. Que a liberdade ressoe dos elevados Alleghenies da Pensilvania!

Que a liberdade ressoe dos cumes cobertos de neve das montanhas Rochosas do Colorado!

Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia!

Mas não só isso; que a liberdade ressoe da Montanha de Pedra da Geórgia!

Que a liberdade ressoe da Montanha Lookout do Tennessee!

Que a liberdade ressoe de cada Montanha e de cada pequena elevação do Mississipi.

Que de cada localidade, a liberdade ressoe.

Quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga canção negra: "Liberdade finalmente! Liberdade finalmente! Louvado seja Deus, Todo Poderoso, estamos livres, finalmente!"

Discurso de Gettysburg

Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais.

Encontramo-nos atualmente empenhados numa grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra Nação assim concebida e consagrada, poderá perdurar. Eis-nos num grande campo de batalha dessa guerra. Eis-nos reunidos para dedicar uma parte desse campo ao derradeiro repouso daqueles que, aqui, deram a sua vida para que essa Nação possa sobreviver. É perfeitamente conveniente e justo que o façamos.

Mas, numa visão mais ampla, não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este local. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes.

O mundo muito pouco atentará, e muito pouco recordará o que aqui dissermos, mas não poderá jamais esquecer o que eles aqui fizeram.

Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão insignemente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção – que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra.

ABRAHAM LINCOLN

19 de Novembro de 1863

Cemitério Militar de Gettysburg

Pensilvânia, Estados Unidos da América

Candidaturas Estéreis

Agora não tem mais jeito.
Os donos do poder impuseram aos 120 milhões de eleitores do Brasil duas candidaturas estéreis à Presidência da República. Institutos de pesquisa, jornalistas, economistas, analistas políticos, partidos de direita e esquerda, encegueirados pelo consumismo econômico não encontram indicio algum de que esses dois satélites teleguiados girem em torno de outro eixo que não seja o PIB.
Impulsionados pela inércia política, sem vida própria, apáticos, inflexíveis, os dois bólides se mantêm no ar a uma mesma altura e velocidade, prestes a cair sobre nossas cabeças. São duas sementes chochas, sem viço e sem germe. Ambos se equilibram com um pé sobre uma única coluna – o PIB. Pode haver um assunto mais estéril que melhor se adapte à esterilidade dos dois candidatos? Pode haver um tema mais indigesto, sem sabor, capaz de manter longe da mesa os convidados eleitorais?
E as filas de doentes em todos os postos de saúde e hospitais do país não entram no PIB? E os milhões de crianças que saem das escolas sem compreender o que leem ou sem dominar as 4 operações, depois de 8 anos de merenda escolar e de professores malpagos, não entram no PIB? Esses milhares de quilômetros de rodovias e a ausência lamentável de ferrovias não entram no PIB? Essa desertificação da Amazônia, do Cerrado, esses rios poluídos, nascentes arrasadas e cidades inundadas anualmente não entram no PIB?
E quem se preocupa com o Congresso Nacional que receberá os mesmos senadores e deputados aloprados e corrompidos para nos brindar com leis que não pegam? Que importa a opinião desses dois autistas políticos sobre aborto e casamento gay se a decisão será tomada pelos representantes do povo, futuros habitantes da casa legislativa?
Parece evidente que a faculdade humana de pensar foi esquecida e abandonada. A bola substituiu o cérebro. A corrida eleitoral com dois galopantes mancos não atrai apostas nem desperta interesse pelo hipódromo.
Pensar, caro eleitor, é um esporte radical. Se bem praticado, pode mudar o rumo da política, da cidadania e dos governos.
Publicado originalmente no blog: O Observador http://eugeobservador.blogspot.com/